{"id":111,"date":"2012-02-02T23:24:04","date_gmt":"2012-02-03T01:24:04","guid":{"rendered":"http:\/\/ushuaialaska.wordpress.com\/?p=111"},"modified":"2012-02-12T23:45:13","modified_gmt":"2012-02-12T23:45:13","slug":"airton","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.ushuaialaska.com.br\/airton\/","title":{"rendered":"Airton"},"content":{"rendered":"

Em Pilar do Sul, cidade que j\u00e1 deixamos pra tr\u00e1s, enquanto o Affonso estava acamado, fui tentar resolver o problema da corrente da bike dele. Coisa bem estranha, uma corrente nova que estava bastante travada e n\u00e3o girava em alguns elos.<\/p>\n

Nessa busca aleat\u00f3ria de bicicletarias, fui parar na casa do Airton. O rapaz trabalha num quintal (tem at\u00e9 uma churrasqueira), com um monte de bicicletas encostadas umas nas outras. L\u00e1 no fundo, \u00e9 poss\u00edvel ver um pequeno pomar, e, antes dele, um imenso lat\u00e3o onde ele empilha pe\u00e7as velhas de bicicleta.<\/p>\n

Airton trabalhou pelo menos uma hora na corrente do Affonso. Lubrificou com \u00f3leo singer (que eu sei que \u00e9 inapropriado, mas era o que tinha), alargou os elos travados, desmontou os pneus pra mim e eu coloquei as fitas anti-furo. Ele montou tudo de volta. Ao final deixou claro: “n\u00e3o t\u00e1 100%, mas eu n\u00e3o tenho uma corrente nova aqui, ent\u00e3o \u00e9 o melhor que eu podia fazer”.<\/p>\n

Enquanto est\u00e1vamos juntos, Airton recebeu cerca de 12 clientes. Quase todos moleques, aos quais respondeu igualmente: “as pe\u00e7as n\u00e3o chegaram ainda, distribuidor vem mais tarde, passa amanh\u00e3 faz favor”. O interior tem essa coisa de uma outra velocidade.<\/p>\n

At\u00e9 aqui, nada de novo no descritivo. Mas o que \u00e9 curioso dessa experi\u00eancia foi ver toda uma oficina de bicicletas adaptada a um mec\u00e2nico com defici\u00eancia f\u00edsica. Se n\u00e3o me falhe a mem\u00f3ria do que Airton me contou, ele sofreu um acidente de carro aos 19 anos e perdeu o movimento das pernas. Ficou tr\u00eas anos sem fazer nada e aos poucos come\u00e7ou a achar coisas de que gostava de fazer.<\/p>\n

Contou que fazia pipas, papagaios, carrinhos de rolem\u00e3 pra molecada e foi nesse momento em que ele come\u00e7ou a arrumar algumas bicicletas. Pouco a pouco, a molecada come\u00e7ou a trazer mais bikes e ele sacou que dava pra ganhar alguma grana com aquela ocupa\u00e7\u00e3o. H\u00e1 seis anos, ele \u00e9 mec\u00e2nico de bikes.<\/p>\n

Enquanto falava da sua hist\u00f3ria, Airton foi especialmente enf\u00e1tico no epis\u00f3dio da compra m\u00ednima. Pra passar a ter uma bicicletaria, \u00e9 necess\u00e1rio ter estoque. A primeira compra para estoque tinha que ser de mais de 360 reais e ele comentou do apuro que passou porque n\u00e3o sabia se faria suficientes trabalhos pra pagar a soma. Ao fim, ele conseguiu pagar a primeira compra e desde ent\u00e3o vem mantendo essa oficina que \u00e9 bastante conhecida em Pilar do Sul.<\/p>\n

Eu n\u00e3o queria fazer ju\u00edzos sobre essa hist\u00f3ria nem tirar conclus\u00f5es. Queria s\u00f3 ressaltar uma cronologia: uma pessoa que perde o movimento das pernas por conta de um acidente de carro e passa a arrumar bicicletas, que ele pr\u00f3prio nunca poder\u00e1 usar.<\/p>\n

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